terça-feira, 24 de outubro de 2006

"Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou contruir um Castelo"

A determinada altura da nossa vida, todos questionamos o porquê de tudo, todos duvidamos o caminho que devemos / queremos seguir, todos temos receio do futuro que se apresenta incerto...
Coincide normalmente com aquela fase em que passamos a ter de ser nós próprios a decidir a nossa vida, a fazer as nossas escolhas, a ter de optar entre o preto e o branco sem ter a certeza do que o preto ou o branco nos podem trazer.

E para além disso, tudo à nossa volta parece não bater certo. Os nossos pais parecem não nos compreender: dá ideia que vivem num mundo que não é o nosso, que nunca iriam entender os nossos problemas e mesmo que entendessem não iam poder ajudar.

O nossos amigos não estão tão presentes como gostariamos. Vão fazendo a vida deles, tem o seu trabalho, as suas namoradas/os, não tem tempo para ouvir os nossos dilemas e, mesmo que tivessem, não iam poder ajudar.

A nossa namorada/do preocupa-se mais com insignificancias do que em realmente nos perceber. Não percebe que me chateio com ela/ele não porque não gosto dela/dele mas sim porque nada parece bater certo no geral. Porque não me sinto bem comigo mesmo/mesma, porque existem tantas coisas que eu imaginaria que seriam diferentes, porque é tudo tão mais complexo, porque não estou bem aqui, nem ali, nem em lado nenhum.

Há uns anos atrás pensariamos que por esta altura já teriamos um emprego que nos completasse, que fosse estável e onde ganhássemos o suficiente para fazer a nossa vidinha (viagens, jantares, saídas, presentes, caprichos, ...). Viveriamos rodeados de amigos sempre bem dispostos, com todo o tempo do mundo para nós. Viveriamos em harmonia com os nossos pais porque afinal já eramos crescidos. Já teriamos encontrado a mulher/homem dos nossos sonhos. E tudo em nosso redor, tirando uma outra chaticezita, iria torcer a nosso favor.

Mas o que é certo é que, mesmo que tivessemos tudo isto e mais alguma coisa chega uma altura em que nos sentimos insatisfeitos, em que tudo parece estar errado, em que pura e simplesmente queremos mais!

Chegada esta fase (sim porque ela bate a porta de todos nós), é que realmente nos definimos como acomodados ou como lutadores. e isso faz toda a diferença... Passo a explicar: ou nos entregamos à auto-vitimização, ou encaramos os problemas e damos a volta por cima.

Opção 1: a auto-vitimização. À partida parece ser a reacção mais evidente, uma vez que, na realidade, o mundo parece estar contra nós. Chamamos a atenção das pessoas, parece que nos sentimos um pouco mais acompanhados, libertamos todas as nossas frustrações através das lágrimas e temos todo o espaço para espernear e berrar tudo o que bem nos apetecer.
No entanto, apesar de todas as facilidades que esta forma de estar parece trazer, ela apenas nos ajuda a afogar ainda mais nas contradições que existem entre a nossa cabeça e o nosso coração. Quanto mais nos agarramos à dor e à frustração, menor a nossa capacidade de pensar, de ver o lado positivo das coisas e de ouvir o conselho dos que nos rodeiam. A confusão de sentimentos cega-nos e não nos permite escutar mais que a quantidade de vozes interiores que temos na cabeça. Parece haver um filtro entre o mundo exterior e tudo o que levamos cá dentro. Porque nós é que sabemos, porque nós é que sentimos, porque os outros não percebem nada e porque os outros nunca poderiam ajudar.
NÃO! Não é de todo este o caminho a seguir, por muito sedutor que possa parecer e por muito que todos nós, numa altura ou outra, tenhamos caído em tentação.

Opção 2: encarar o problema (ou a quantidade anormal de problemas que de repente surgiram todos ao mesmo tempo na nossa vida que parecia ir tão bem). É duro porque temos de ter a capacidade de conviver connosco próprios. Temos lidar com as contradições da cabeça e do coração.
É necessário ter coragem para perceber que os amigos são os mesmos e gostam de nós da mesma forma mas nós é que estamos mais sensíveis e levamos as coisas mais a peito.
Temos de conseguir compreender os nossos pais que nos amam incondicionalmente como sempre mas, como crescemos e eles continuam a ver-nos como as crianças que mesmo ontem tiveram o primeiro dia de escola, a preocupar-se se comemos como deviamos, se dormimos bem, se descansamos, se..., se..., e se... ah e não te esqueças de levar um casacooo... e ainda por cima têm a capacidade de nos ler nos olhos quando estamos bem e quando estamos mal e decidem perguntar-nos se está tudo bem exactamente no momento em que queremos é estar refugiados em nós próprios, o que significa que temos de nos esforçar por pôr o melhor sorriso na cara, para não os preocupar e porque os nossos problemas não são bem problemas mas moem e até os resolvermos, nós os resolvermos porque no fundo não passa de um conflito interior entre o deixar de ser adolescente e o passar a ser adulto e por isso só nós poderemos apanhar o fio à meada.
E a namorada/namorado, é preciso faze-lo /la perceber que os dilemas que temos não são directamente relacionados com ela (embora claro que em parte passem por aí, porque questionamos tudo), dar-lhe carinhos e miminhos mesmo que a única coisa que nos apeteça fazer seja deixar que façam tudo por nós. É ter o discernimento de perceber que também o nosso companheiro pode estar a passar pelo mesmo e que, se realemente vemos nela/nele a pessoa que queremos ao nosso lado, temos de arranjar forças para não a/o ver escapar por entre os dedos...

É preciso coragem e muita força para perceber que estamos perto de nos entregar à auto-vitimização mas que somos capazes de lutar por nós, de perceber que tudo não passa de uma fase (semelhante à de outras pessoas que já passaram pelo mesmo e que nós nem nos apercebemos). Acima de tudo ter a noção que tudo isso faz parte de uma aprendizagem que só nos fortalece, nos faz melhores pessoas, nos enriquece, e nos faz crescer. Porque a vida tem destas coisas...

Curiosamente, enquanto estava embrenhada nestas linhas recebi um poema de Pessoa que em muito serve de conclusão a tudo o que aqui tentei dizer.

"Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo, e que posso evitar que ela vá a falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um "não".
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."

P.S. - Embora a leitura já tenha sido muita, aconselho a leitura do post "The Twenty Something..."

3 comentários:

Poeta Aprendiz disse...

Sem saber bem como...vim aqui parar. Será destino? Será que foi um Anjo que me enviou? Vou andar por perto...para ajudar no que estiver ao meu alcance. Afinal é para isso que andamos neste mundo, não é?

Honka disse...

Apesar de termos uma ideia do que é o certo nem sempre a nossa ideia corresponde à realidade. A verdade é que vivemos no incerto e teimamos em saber ao certo o que queremos ou o que nos espera.O mais dificil é deixar as certezas e caminhar pelo inveitável: o unknown! Nem sempre temos todo o apoio que esperaríamos, muitas vezes nem procuramos o apoio certo (até porque como vamos saber o que está certo? só arriscando no nosso instinto e algumas experiências passadas), e outras vezes o apoio não é bem o ideal para as nossas necessidades incompreendidas. Parece-me que todos passamos por dilemas parecidos, cada um adaptado à variedade de caminhos por onde podemos seguir. A única coisa que te posso dizer é que tens de acreditar nas tuas escolhas e que não podemos depender de ninguém. Por acréscimo digo-te também que, apesar de não estar aí contigo, de não saber exactamente aquilo que precisas (alguém sabe?), de apenas tocar numa ponta do que é esse novelo de pensamentos,projectos e sentimentos, estou aqui para te dar a força que puder quando disso precisares. Em frente!Tudo se explicará...

Anónimo disse...

Eu sei bem como vim aqui parar,perdi o meu tapete e apanhei a tua nuvem.
Apesar do teu Castelo se tornar mais forte, constroi também a ponte que levanta para as coisas más, e desce para as boas puderem entrar.